sábado, 4 de novembro de 2017

SIN SIN MING - POEMA ZEN




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O Zen é a essência do Budismo
A liberdade interior é a essência do Zen


A FÉ NA MENTE VERDADEIRA


Não há nada de complicado na grande Via,
Mas é essencial evitar preferir. (1)
Libertos do amor e do ódio
Ela aparecerá com todo o seu esplendor. (2)


Se nos afastarmos dela pela espessura de um cabelo
Será como um imenso precipício entre o céu e a terra. (3)
Se a quisermos atingir
Não podemos estar nem a favor nem contra nada. (4)


O conflito entre o a favor e o contra
É a autêntica moléstia da alma. (5)
Se não divisarmos a essência das coisas
Afadigar-nos-emos em vão para serenar o nosso espírito. (6)


Tão perfeita como a vastidão do espaço,
Nada lhe falta, nada está fora dela. (7)
Acolhendo e repelindo as coisas
Não somos como devemos ser. (8)


Não intentemos alcançar o mundo submetido à causalidade.
Não adiramos a uma inanidade que exclua os fenómenos. (9)
Se o espírito permanecer em paz no Um
As visões dualistas irão desaparecer por si próprias. (10)


Quando a actividade pára e a passividade impera,
Esta, por sua vez, torna-se mais activa. (11)
Permanecendo no movimento ou na quietude
Como é que poderemos conhecer o Um? (12)


Se não compreendermos a unidade da Via
O movimento e a quietude irão conduzir-nos ao fracasso. (13)
Se nos apartarmos do fenómeno, ele absorver-nos-á,
Se perseguirmos o vazio, virar-lhe-emos as costas. (14)


Quanto mais falarmos e racionalizarmos,
Mais nos desviaremos da Via. (15)
Suprimindo a linguagem e a reflexão
Não existirá lugar algum onde não possamos ir. (16)


Regressando à raiz obteremos o sentido,
Correndo atrás das aparências afastar-nos-emos do princípio. (17)
Se por um breve instante nos olharmos introspectivamente
Ultrapassaremos o vazio das coisas deste mundo. (18)


Se este mundo nos parece sujeito a transformações
É consequência das nossas visões falsas. (19)
Não é necessário buscar a verdade
Basta terminar com as falsas visões. (20)


Não nos apeguemos às visões dualistas,
Evitemos com todo o cuidado perfilhá-las. (21)
Caso exista o menor vestígio do sim e do não
O espírito perder-se-á num labirinto de complicações. (22)


A dualidade existe como consequência da unidade,
Mas não nos apeguemos a essa unidade. (23)
Quando o espírito se unifica sem se apegar ao Um,
As dez mil coisas são inofensivas. (24)


Se uma coisa não nos ofender é uma coisa inexistente,
Se nada se produzir não haverá espírito. (25)
O sujeito desaparece atrás do objecto.
O objecto desaparece com o sujeito. (26)


O objecto é pelo sujeito que é objecto.
O sujeito é pelo objecto que é sujeito. (27)
Se desejarmos saber o que é que eles são na sua ilusória dualidade,
Saberemos que não são nada para além do que um vazio. (28)


Neste vazio único os dois identificam-se
E cada um contém em si as dez mil coisas. (29)
Não devemos fazer distinção entre o subtil e o grosseiro.
Como poderemos tomar partido disto contra aquilo? (30)


A essência da grande Via é vasta,
Nela não há nada fácil nem difícil. (31)
As visões mesquinhas são hesitantes.
Quanto mais depressa pensamos que vamos mais lentamente o fazemos. (32)


Apegando-nos à grande Via aniquilamos toda a dimensão
E comprometemo-nos com um caminho sem saída. (33)
Se a deixarmos ir as coisas seguirão a sua própria natureza.
Em essência nada se move nem permanece no mesmo lugar. (34)


Obedecendo à natureza das coisas estaremos de acordo com a Via,
Estaremos livres e seremos libertados de todo o tormento. (35)
Quando os nossos pensamentos estão acorrentados viramos as costas à verdade
E mergulhamos no desassossego. (36)


O desassossego fatiga a alma.
Para quê fugir disto e acolher aquilo? (37)
Se desejarmos adoptar o trilho do Veículo Único
Não poderemos amparar nenhum preconceito contra os objectos dos seis sentidos. (38)


Quando deixarmos de os detestar
Então atingiremos a iluminação. (39)
O sábio perdura sem fazer nada,
O louco enreda-se a si mesmo. (40)


As coisas não conhecem distinções,
Nascem do nosso apego. (41)
Apoderarmo-nos do seu espírito para nos servirmos dele
Não será o mais grave de todos os desatinos? (42)


A ilusão produz quer a serenidade quer o transtorno.
A iluminação destrói todo o apego bem como toda a aversão. (43)
Todas as oposições
São fruto das nossas reflexões. (44)


Visões em sonho, flores do ar,
Porque é que nos devemos dar ao trabalho de as proteger? (45)
O ganho e a perda, o verdadeiro e o falso,
Que desapareçam uma vez por todas. (46)


Se o olho não dorme,
Os sonhos irão desvanecer-se por si próprios. (47)
Se o espírito não se perder nas diversidades
As dez mil coisas já não serão mais do que uma identidade única. (48)


Quando compreendermos o mistério das coisas na sua identidade única
Esqueceremos o mundo da causalidade. (49)
Quando todas as coisas forem consideradas com equanimidade
Regressarão à sua natureza original. (50)


Não procuremos o porquê das coisas
Porque iremos precipitar-nos no domínio das comparações. (51)
Quando a paragem se põe em movimento deixa de haver movimento,
Quando o movimento pára, deixa de haver paragem. (52)


As fronteiras do derradeiro
Não são guardadas nem por leis nem por regulamentos. (53)
Se o espírito estiver harmoniosamente unido à identidade,
Toda a actividade se apaziguará nele. (54)


Quando afastarmos as dúvidas,
A fé verdadeira reaparecerá confirmada e reerguida. (55)
Já nada permanece,
Nada de que seja necessário recordarmo-nos. (56)


Tudo é vazio, luminoso e radiante por si próprio.
Não fatiguemos as nossas forças espirituais. (57)
O Absoluto não é um lugar mensurável pelo pensamento,
O conhecimento não o pode sondar. (58)


No mundo da verdadeira identidade
Não existe outrem nem si mesmo. (59)
Se desejarmos adequar-nos com ela
Bastar-nos-á dizer: não-dualidade. (60)


Na não-dualidade todas as coisas são idênticas,
Nada há que não esteja contido nela. (61)
Os sábios em toda a parte
Chegaram a esse princípio primordial. (62)


O princípio não tem pressa nem se atrasa.
Um instante é semelhante a milhares de anos, (63)
Nem presente, nem ausente,
No entanto, em toda a parte diante dos nossos olhos. (64)


O infinitamente pequeno é como o infinitamente grande,
No esquecimento total dos objectos.
O infinitamente grande é igual ao infinitamente pequeno,
Quando o olhar já não se apercebe mais de limites. (65)


A existência é a não-existência.
A não-existência é a existência.
Enquanto o não compreendermos
A nossa situação permanecerá insustentável. (66)


Uma coisa é ao mesmo tempo todas as coisas.
Todas as coisas não são senão uma coisa. (67)
Se pudermos compreender isto
Será inútil atormentar-nos quanto ao conhecimento perfeito. (68)


O espírito da fé é não-dualista.
O que é dualista não é o espírito da fé.
Aqui as vias da linguagem param
Pois não existe nem passado, nem presente, nem futuro. (69)




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